DRAGÕES E DEMÓNIOS*
1. O centro
No centro da mandala está a escola desejada. É para o centro que queremos caminhar. E a mandala é a carta que nos guia ao longo desse caminho, representando a hipercomplexidade dessa organização na qual, entre dragões e demónios, coexistem diferentes racionalidades e lógicas de ação.
O acesso ao centro faz-se através de quatro portas: Identidade, Educação, Projeto e Valores. Não basta entrar apenas por uma. É a travessia destas quatro vias de acesso que garante o domínio de todos os quadrantes da mandala e a almejada chegada ao centro. Cada porta está guardada por um dragão, cujo desafio é preciso vencer.
2. Portas e Dragões
Na porta da Identidade o Dragão da Cultura desafia-nos à criação e à manutenção de uma marca identitária. Uma cultura que nos individualize, que nos resgate da mesmidão, e que ao mesmo tempo dê sentido à nossa ação.
O Dragão do Sonho guarda a porta do Projeto. O desafio passa por imaginar e dar corpo a um projeto sólido, integrado, articulado, onde haja espaço para o sonho. Contra a descrença e a apatia. Em favor da descoberta de novos horizontes, de novas possibilidades.
Na porta dos Valores, o Dragão da Ética. A tónica do desafio coloca-se na arte de viver e (com)viver, partilhando normas de conduta no respeito pelas identidades individuais.
O Dragão do Estudo guarda a porta da Educação. Tempo de questionamento. Que educação queremos?Quais os seus fundamentos e pressupostos? Que Educação promovemos?
3. Eixos e Demónios
Conhecimento, Comunicação, Cooperação e Equilíbrio são os quatro eixos que definem os quadrantes da mandala. Encontram-se ameaçados por Demónios que é preciso vencer.
O Demónio da Opinião ameaça o Conhecimento. A opinião, por si só, não gera conhecimento. É o conhecimento que pode gerar opiniões. Fundamentadas, fruto de reflexão, de confronto, de procura, propulsoras de uma ação sustentada.
A Comunicação é afetada pelo Demónio do Ruído. Vencer este demónio passa pela adoção de sistemas de comunicação eficazes, transparentes, abertos.
O eixo da cooperação está sob a ameaça do Demónio do Individualismo. Importa que da lógica das ilhas passemos para uma lógica de arquipélago.
Por fim, o Demónio da Radicalização põe em causa o Equilíbrio. Este só sobreviverá se formos capazes de olhar a escola na sua multidimensionalidade, procurando chaves de leitura integrada para a realidade.
Que a mandala nos oriente e guie neste tempo de disforia. Há demónios a vencer, dragões contra os quais lutar, mas acima de tudo, há caminhos a trilhar.
*Texto inspirado na Mandala do Azimute desenhada por João Miguel Gonçalves (cf. Gonçalves, J. (2013). EPAMAC COMUNIDADE E SENTIDO – Em torno da construção de um azimute para a ação diretiva – ideário mínimo «pro domo mea». Marco de Canaveses: Edição do Autor.
Ilídia Vieira