O tempo é uma variável chave na vida das pessoas, na vida dos professores. Tempo cada mais prolongado, mais intenso, mais complexo, mais exigente, mais caótico. Mais destrutivo das nossas possibilidades de ser. Como pessoas e como profissionais.
Desde a revisão do ECD em 2007 que o tempo do professor não tem cessado de aumentar em exigência e complexidade. Mais tempo de permanência na escola, mais tarefas de índole administrativa e burocrática, mais tarefas para realizar em casa – nomeadamente no campo da avaliação, da correcção de testes…- mais funções de custódia e guarda que nada têm a ver com a profissão docente; e mais funções: de ensinante, de pai, de mãe, irmão, amigo, confidente. O professor(a) super homem e super mulher que se desgasta e extenua, correndo o risco de não cumprir a função principal: a de procurar fazer aprender cada um dos seus alunos no máximo das suas possibilidades.
Neste contexto, de pau para toda a colher, surge o natural esgotamento, a depressão e o burnout. Parte-se a corda da viola, desmorona-se a ilusão de ser a pedra essencial de outro futuro. De se ser o futuro. Um futuro mais humano e fraterno. Um futuro em que se sentiria orgulho de ser professor. E onde a alegria de ensinar poderia ser ainda uma realidade.
Nesta tristeza de ser, tem de restar, apesar de tudo, a esperança. A esperança de nos encontrarmos a nós mesmos na descoberta na nossa capacidade de sermos autores, criadores da nossa condição docente, e na prática de estratégias de sobrevivência que nos dêem os balões de oxigênio que nos resgatem da asfixia.
José Matias Alves