Numa das minhas leituras de férias encontrei uma frase de Mahatma Gandhi que tem ecoado em mim, persistentemente: “ Não há caminhos para a paz. A paz é o caminho!”. Revisitei esta frase várias vezes e apliquei-a a diferentes cenários e a sua sensatez permanece. Vejo nesta frase a afirmação de que mais importante do que as formas ou os métodos para alcançar qualquer objetivo, é permanecer fiel à essência que lhe dá identidade. A sabedoria é saber usar os instrumentos sem nunca perder o foco do que lhes confere sentido e significado.
Hoje penso nas palavras de Gandhi e aplico-as à Educação. Poderia dizer que: “Não há caminhos para a educação. A educação é o caminho!“ e estava quase tudo dito sobre a mais nobre demanda da espécie humana, pois é a matriz de todos os caminhos . Todos os outros são apenas atalhos. Vou mais longe e penso agora na aplicabilidade desta frase ao trabalho do professor.
Ensinar é antes de mais ser capaz de estabelecer uma efetiva comunicação com o aprendente e depois conseguir que a mensagem plante, no outro, uma semente que dê fruto e se reproduza. De todos os requisitos indispensáveis, para que esta tarefa seja possível, qual será verdadeira essência do conceito de ensinar, qual a substância primordial que o sustenta?
Radicalizo o pensamento, vou aos fundamentos e concluo que a substância primordial que alimenta a capacidade do professor estabelecer uma comunicação reprodutiva é … acreditar. Reconverto o pensamento de Gandhi: “Não existem caminhos para acreditar. Acreditar é o caminho”. Penso que este deve ser o mote de ação de todos os professores que em setembro se preparam para mais uma viagem onde nem todos os passeiros embarcam por prazer. O êxito do percurso, sejam quais forem os caminhos, está em não deixar de acreditar que ensinar é possível, até quando estamos perante alunos que não querem aprender. Só acreditando que a comunicação (por mais difícil que seja) é possível, podemos encetar a procura dos melhores instrumentos de mediação. Quando se acredita (em nós, no nosso trabalho, no apoio dos nossos pares e sobretudo no aluno) todos os obstáculos são vistos como desafios. Todas as fragilidades são vistas como episódicas porque se acredita no êxito da história.
Aqui chegada nas minhas reflexões recordo uma extraordinária palestra de Benjamim Zender, em que conta a seguinte história:”uma fábrica de sapatos de Manchester, tentando alargar a sua atividade comercial, envia dois vendedores para um país africano. Lá chegados os dois vendedores tomam contacto com difícil realidade local, que se apressam a comunicar à sede da empresa. Cada um envia um telegrama. Lamenta-se um: “Grande desilusão. Não há muito para fazer: aqui ninguém usa sapatos!” Anuncia o outro: “Grandes expectativas. Grande potencial: aqui ninguém usa sapatos!“. O que diferencia estes dois vendedores?Enquanto um acredita no seu trabalho e vê na situação adversa um desafio profissional, o outro assume que só sabe vender sapatos a quem quer ser calçado. Quer um trabalho tranquilo em que os compradores o procurem e em que ele se limite a processar a venda e passar a fatura.
O professor que acredita no que faz sabe que, atualmente, muitos alunos não vão à escola procurando “calçar-se “ com o conhecimento para um melhor percurso de vida. Muitos afirmam que preferem continuar descalços e defendem essa opção como um direito. É porque acredita, que o professor conseguirá que o aluno perceba que até para argumentar essa opção é necessário apender a fazê-lo. Pode fazê-lo de várias formas …. Mas acreditar é o caminho”.
Ana Paula Silva