FILHO É, PAI SERÁ OU COMO TRANSFORMAR UM PROBLEMA EM PARTE DA SOLUÇÃO
Nos tempos que correm a escola tem vindo a confrontar-se com um problema para o qual não está preparada, não tem manual de instruções e que se tem revelado autofágico em relação à sustentabilidade da evidente importância da escola: o abandono escolar. A jusante deste, um outro que transforma toda esta problemática numa espécie de “pescadinha de rabo na boca”: a progressiva desvalorização dos pais do papel de escola como co-construtora de futuros profissionais (e cívicos). Para muitos (que me perdoem os outros) a escola é uma espécie de espaço moratório onde seu educando está à espera do que possa vir desejando que, no entretanto, ele aprenda normas de comportamento que por vezes eles não puderam ou souberam dar. Estes são efetivamente dois (e não dos menos relevantes) elefantes brancos do sistema educativo.
Um aluno que abandona precocemente a escola é uma espécie de pedrada no charco que provoca múltiplas ondas de choque em torno de si: na família, na turma, na escola e na sociedade pois o valor acrescentado que esta espera de cada um dos seus jovens fica altamente comprometido.
São várias as razões que levam o aluno a abandonar a escola. Não vou dissecá-las aqui. Neste momento prefiro refletir no momento decisório de deixar a escola. Tenho analisado atentamente os bastidores desta decisão e independentemente dos motivos, percebi um “ modus operandi” comum: o aluno, normalmente, vai dando sinais progressivos de desintegração, de difícil socialização, de desinteresse, de indiferença em relação à escola. Estes sinais são percetíveis não só nos resultados escolares, mas nas atitudes e comportamentos de (des)empatia para com a escola, os seus valores e os seus atores.
Na escola, este aluno vai estando…. Quando finalmente se desvincula dela, apenas guarda uma recordação sem afeto, sem nada de positivamente significante que o relacione como um tempo positivo, de investimento, de enriquecimento pessoal.
É aqui penso que a escola deve olhar para estre problema com uma nova visão: uma visão estratégica que não veja este aluno apenas, como um problema presente mas também como potencial problema futuro(geracional). Perder este aluno é muito mais do que falhar com ele, é aumentar exponencialmente as possibilidades de também falhar com o seu filho (e até com o seu neto). Como vai este aluno, enquanto pai, mobilizar o seu filho para a importância da escola, para a necessidade de adquirir conhecimento, para a responsabilidade social de ser um cidadão critico? Ganhar este aluno é um grande passo para evitar um problema futuro. Devemos começar a mobilizar os pais, quando ainda são alunos. Hoje ajudamos para amanhã poder contar, efetivamente, com sua ajuda. Esta ajuda só será produtiva se for feita por convicção e não por obrigação (ou para impedir a suspensão de abonos ou subsídios….).
Ganhar um aluno em risco de insucesso ou de abandono provando, pela ação, que a escola não foge às dificuldades e sobretudo que não desiste de um aluno é a melhor medida profilática contra o insucesso e o abandono escolar pois este aluno, quando pai, vai ter para reforço da sua autoridade, o seu exemplo positivo.
A escola precisa de ver no aluno-problema, o embrião de problemas que podem ser evitados se forem resolvidos a jusante. Claro que quando falamos de pessoas os nexos de causalidade não são lineares, mas exatamente porque são pessoas podemos ter uma certeza: a memória afetiva é a mais consistente e a mais resolutiva.
Como um laboratório de ideias a escola deve forjar soluções, hipóteses heurísticas para evitar o abandono do aluno em risco de abandono. É necessário pensar este aluno não como uma baixa colateral, mas como um desafio que poderá evitar um ciclo vicioso de desvalorização da escola.
Tentar uma espécie de “fecundação artificial “ de um aluno que veja na escola um local de abrigo que o protege de si mesmo e da sua vontade pelo facilitismo desistente. Começar hoje a preparar o aluno de amanhã, o aluno que será pai amanhã. Pois como dizia um velho vendedor de sapatos que conheci na minha infância: a melhor publicidade é poder ver que a coisa resulta.
Ana Paula Silva