Um líder de uma escola sem visão estratégica, não é um líder é apenas um gestor de recursos (humanos, económicos, financeiros, patrimoniais) que se afasta progressivamente da liderança educacional que deveria ser um dos caraterizadores mais relevantes da sua ação.
Uma visão estratégica da liderança exige um posicionamento ético de serviço. O cargo deve ser visto como uma oportunidade, mas não de si para si, mas de si para a escola.
A pergunta de partida deve ser: o que posso fazer para servir os propósitos de melhoria da estrutura de que sou responsável? Como fazê-lo com entusiasmo? Como demonstrar a necessidade de mudança e sobretudo como contagiar, com esse entusiasmo, todos os professores que coordeno e sem os quais essa mudança dificilmente será possível e muito menos permanente?
Ver a escola a partir de si ou ver-se a partir da escola, faz toda a diferença quando falamos de um líder. A primeira visão é tautológica, começa e acaba no carisma. A segunda é integradora. Embora tenha uma bússola que orienta a médio e longo prazo, está aberta aos contributos de percurso. Não perde o “norte” mas, com ajuda de todos, faz da viagem um exercício pedagógico em que todos aprendem e onde o prazer da chegada é o sucesso de todos e sobretudo da escola ou estrutura que lideram.
No meu trabalho como consultora do SAME, tenho tido o privilégio de trabalhar com líderes que servem a sua escola. Da direção às lideranças intermédias tenho percebido como faz a diferença trabalhar com profissionais que pensam sempre no que podem fazer pela escola e pela estrutura que coordenam e mesmo quando os caminhos discutidos como hipóteses de ação significam mais trabalho, mais compromissos para a implicação, sempre respondem: ” se é para melhorar, vamos em frente.“
Na última sexta-feira numa das escolas com protocolo SAME com que trabalho, os grupos de investigação/ação que tive o privilégio de acompanhar ao longo do presente ano letivo apresentaram aos restantes professores do Agrupamento o resultado das suas reflexões e as respetivas propostas de melhoria de práticas.
O entusiasmo de servir tal propósito, que vi em todas as apresentações e na forma como os professores-autores responderam aos pedidos de esclarecimento dos seus colegas, foi, para mim mais uma prova de se pode efetivamente cativar à mudança pela perceção de que os autores das propostas de mudança servem um bem maior. E quando esse bem maior é o espaço e o tempo em que se tece o futuro de todos os atores, servir a escola é comprometer-se com a mudança. É estrategicamente projetá-la a longo prazo, interiorizando esse compromisso não apenas como exigência da liderança mas como um vínculo afetivo permanente.
Servir ou servir-se … eis a questão.
Ana Paula Silva