A escola é um espaço tempo de aprendizagem. Este é o foco que deve mobilizar a atenção de todos os responsáveis pela ação educativa. A planificação, a organização e as decisões devem visar a criação de melhores oportunidades de aprendizagem. Em primeiro lugar, a aprendizagem dos alunos. Nenhum pode ficar à margem deste processo de crescimento. Mas também a aprendizagem dos professores, dos funcionários e dos pais e encarregados de educação. Todos são convocados para aprender novos conceitos, novas visões e disposições, novos métodos que aumentem as probabilidades de aprender. Como dizia António Nóvoa, o centro (e o sentido) da escola é a aprendizagem e as pessoas que a realizam.
Mas a aprendizagem significa, muitas vezes, a desaprendizagem. Fernando Pessoa pela visão de Alberto Caeiro sabia-o:
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
(poema XXIV)
Trazemos a alma vestida de rotinas, de preconceitos, de mitos e ilusões. Precisamos de raspar a tinta com que nos embotaram os sentidos (Alberto Caeiro) para ver a realidade das pessoas que são a escola. Para ouvir e escutar os pedidos silenciosos de muitos alunos que usualmente ficavam abandonados de si mesmos no fundo da sala. Para sentir os apelos inauditos e compreender os motivos das recusas e do não querer.
Esta aprendizagem pressupõe, como dissemos, uma disponibilidade para desaprender. Nas palavras de Olivier Reboul (1983):
O que é aprender, em todos os domínios, senão “desaprender” alguma coisa, deixar um hábito ou uma certeza no mais íntimo de nós próprios? Aprender a é, antes de mais nada, romper com hábitos que se tornaram uma segunda natureza, é “desaprender” a respirar quando se trata de deporto ou de música, é “desaprender” os sons e a sintaxe da sua própria língua quando se pretende aprender outra. E o que é compreender, senão abandonar as pseudocertezas, afastar os “obstáculos epistemológicos” devidos à tradição e à experiência ingénua, recusar as verdades primeiras que nunca mais são, segundo Bachelard, que “erros primeiros”? Finalmente, o que é aprender a mudar, a renunciar corajosamente ao conforto e ao conformismo em que uma pessoa estava instalada como em sua casa, apra vir a ser, enfim, ela própria. Aprender realmente, é sempre “desaprender”, para vencer o que nos paralisa, nos encerra, nos aliena”.
Esta desaprendizagem é, de facto, uma condição essencial de mudança. Mudar de visão (sobre a função primeira da escola, sobre a função do professor, sobre o estatuto de aluno…), mudar de modos de trabalhar e interagir no espaço escolar são operações essenciais que têm de ser garantidas pela pressão e pela persuasão.