Todos temos uma zona de conforto. Construída com base nas aprendizagens que realizamos, nas experiências que colecionamos, nas relações que estabelecemos com os outros e com o mundo… A nossa zona de conforto é a nossa zona de mestria: porque a conhecemos, acabamos por dominá-la. E aí nos sentimos bem (como o próprio nome indica) porque o conforto do que conhecemos, do que nos é familiar, nos securiza.
Podemos viver toda uma vida instalados na nossa zona de conforto, ou saltando de zona de conforto em zona de conforto, à medida que a nossa realidade se vai, lentamente, modificando. A passagem de uma para outra zona é, em regra, controlada, havendo pequenas alterações que não põem em causa a nossa segurança, o domínio que nos permite estar no controlo das nossas ações e prever de forma razoavelmente segura as suas consequências.
Porém, há circunstâncias que nos retiram obrigatoriamente da nossa zona de conforto. Uma simples mudança de contexto pode levar à extinção de uma parte significativa do que nos é familiar. Confrontados com uma nova realidade, o nosso pequeno mundo ganha uma outra dimensão. As nossas verdades perdem consistência perante as verdades tão evidentes dessa outra realidade, igualmente intensa, igualmente válida, tão somente diferente. Vem, então, um tempo sem rede. Tempo de insegurança, de incerteza. Mas também um tempo de questionamento, de desenvolvimento, de produção de novo conhecimento.
Quantas vezes nos agarramos de forma inquestionável às nossas convicções, ao que nos é familiar, ao que nos conforta, ao que dominamos, evitando a todo o custo sair da nossa zona de conforto. Quantas vezes nos fechamos sobre nós mesmos, desconfiando de tudo o que possa ameaçar a nossa (por vezes unicamente aparente) segurança.
Sendo por vezes difícil esta abertura ao que não conhecemos, ao que não dominamos, é o facto de ousarmos pensar diferente, de nos permitirmos experimentar outras lentes para lermos a realidade, que nos faz ver mais além, compreender o que não compreendíamos, ensaiar novos caminhos, arriscar novas formas de ser e de estar.
Este é o tempo de passarmos de zonas de conforto individuais para zonas de conforto coletivas, nas quais todos nos possamos sentir seguros porque todos nos reconhecemos. Tempo de desaprender. Tempo, como dizia o poeta, de raspar a tinta com que nos pintaram os sentidos. Tempo de alargar horizontes, congregar saberes e experiências para os recriar. Tempo de agir coletivamente.