Ana Paula Silva
Embora não tenha a autoridade do conhecimento de muitas outras profissões, acredito que a de professor é uma das mais assoberbadas com reuniões. Umas escolas exageram no zelo convocatório, outras são mais comedidas. Demasiadas vezes, umas e outras negligenciam o seu potencial ao transformar as reuniões numa espécie de “ anti-matéria “ da sua própria essência.
Por que há dois tipos de reuniões: as “re-uniões “ que são uma oportunidade para revisitar, refletir, reformular, reformar, reconstruir, recentrar… e as “des-reuniões” onde parece haver um convite implícito à desmotivação, à desatenção, ao desinteresse, ao desapego ao “despacha…. “. As primeiras respondem a uma necessidade sentida colegialmente de unir, respeitando, as diferenças para a melhoria de todos e proveito dos alunos, as outras respondem a uma exigência de calendário que lhes confere legalidade mas não garante produtividade.
As reuniões que “ re-unem” são aquelas em que entramos interessados e saímos comprometidos. As que des-unem são aquelas em que entramos “porque sim” e saímos comodamente instalados no status quo. Houve grupo mas não houve vínculo. Os professores estiveram, em grupo, reunidos na sua solidão pedagógica. As reuniões que “re-unem” refletem o problema pedagógico de um dos seus como um problema de todos, as reuniões que “des-ligam” não tratam de problemas mas de organização. São burocráticas, impessoais, reduzem o pedagógico ao papel e o ensino ao normativo.
Nas reuniões que “re-unem” o relógio é um indicador, nas outras um libertador.
O tempo é um dos instrumentos que o professor usa com mais mestria. Para o professor a sua administração é a arte de ganhar tempo quando parece perde-lo ou evitar perde-lo, inutilmente, quando tudo o pressiona para ganhá-lo mais rapidamente.
É a perícia com que administra o tempo que permite ao professor inventar tempo dentro do tempo ao fazer crescer um tempo para os alunos roubado ao seu próprio tempo. Por isso o tempo dos professores é um bem precioso. Muitas escolas assumem-no ao procurar que o que é despendido em reuniões seja eficaz, eficiente, gratificante. Estas são as escolas que “re-unem “ para debater o pedagógico, para refletir estratégias, para construir conhecimento. Não perdem tempo, ganham melhoria.
Mas perseguir a eficácia e eficiência deve ser encarado como um caminho e não como um fim em si mesmo, pois há o perigo de estes conceitos se transformarem apenas num objetivo contabilístico, onde qualquer reunião transforma-se num “visto” de cumprimento de uma obrigação gestora do Plano de Reuniões previstas. Em nome deste pseudo-objetivo mistifica-se a essência dos referidos conceitos e com eles outros enganadores: informatiza-se mas não se desburocratiza. Agiliza-se mas não se rentabiliza. Não se ambiciona reduz-se: as reuniões de departamento fazem-se sem departamento (só com o “núcleo duro”), as reuniões de avaliação sem avaliar (classifica-se), as reuniões de planificação sem planificar (adota-se) …….
Uma “re-união” é muito mais do que um tempo e um espaço, é uma forma de estar e partilhar. As boas escolas usam as” re-uniões “ como ferramentas. Libertam-nas do administrativo e organizacional que é previamente enviado para conhecimento, para posicionamento refletido. Usam-nas como espaço de lupa pericial onde as fragilidades são debatidas sem “culpas “, transformando essa abordagem para a resolução e melhoria na melhor potencialidade do grupo de reflexão. A força destas “re-uniões” é a colegialidade comprometida e as ameaças superadas pelo fim do trabalho solitário, sem cumplicidade de objetivos.
Os grupos de trabalho de uma escola que “re-unem” porque o vínculo de entreajuda profissional está no âmago da sua prática pedagógica e no ADN do Projeto Educativo dessa escola, assumem-se efetivamente como comunidades educativas onde todos os professores estão abertos à aprendizagem, à melhoria, ao desenvolvimento profissional.
Estas são as escolas que deviam liderar o ranking da excelência do habitat profissional dos professores. Pois se os bons professores fazem as boas escolas, as boas escolas fazem os professores sentirem que são um elo importante de uma corrente que sustenta a sua qualidade. Este reconhecimento incentiva-os à procura contínua da melhoria, de novos caminhos. E estes são alimentos para um ensino desafiador, motivante comprometido, partilhado. E numa profissão sem receitas para o sucesso não se pode deixar de reconhecer que estes são ingredientes poderosos.