Perguntei um dia a um grupo de alunos o que era um bom professor. Depois de algumas brincadeiras, uma aluna geralmente reservada avançou: «o bom professor é o que nos faz gostar da matéria». O silêncio que se seguiu mostrou bem a adesão de todos à definição. O bom professor não é, portanto, aquele que provoca admiração pelo seu saber - esse pode até fazer-me desanimar; não é aquele que entretém - com esse não se aprende; nem é aquele que obriga a estudar - esse não educa. O bom professor é aquele que apresenta de tal modo a matéria que eu me sinto fascinado por ela e mobilizo as minhas energias e recursos para a conhecer e gozar. E está-se a ver que a educação pelo fascínio se relaciona intrinsecamente com a autonomia. Eu levanto-me e estudo, não porque me mandam, não porque sou obrigado, mas porque o objecto me atrai, porque quero, porque gosto.
No fundo o que é a pedagogia e o que é a didáctica, senão a ciência, ou a arte, de saber apresentar as matérias de tal modo adaptadas à idade e estádio de desenvolvimento da criança, que ela se sinta atraída e mobilizada? Digo arte, não tanto pelo que ensinar bem implica de jeito e habilidade, mas pelo que implica de beleza e de estética. Ensinar bem Matemática é mostrar a beleza da Matemática; ensinar bem Português é revelar o encanto do bom texto e da boa expressão; ensinar bem Ciências é abrir a porta para o gozo da natureza.
Pedro da Cunha
in Dez princípios da relação pedagógica