Antonio Bolívar (cf. Como Melhorar as
Escolas, p. 4) pretende alertar-nos para
uma situação paradoxal: a escola é uma
organização que ensina e onde muitos
alunos realizam aprendizagens fundamentais;
no entanto, “a ironia da realidade
escolar está no facto de instituições
dedicadas à aprendizagem não terem,
elas próprias, o hábito de aprender”.
E não têm o hábito de aprender porque
os indivíduos que as integram não querem
ou simplesmente não vêem nisso
qualquer vantagem; ou têm outros interesses
prioritários; ou não sentem o apelo
da consciência profissional; ou não dispõem
de lideranças mobilizadoras e próactivas; ou se acomodam à continuada certificação da menoridade intelectual;
ou não sentem a pressão externa para;
ou… E as organizações só aprendem
através de indivíduos que aprendem.
Assim, para que uma escola aprenda
(com os seus erros, êxitos, limites, insuficiências…)
é preciso induzir a maioria
dos seus membros a querer aprender. E
a gerar cinco grandes processos de acção
(cf. ibidem):
i) resolução sistemática dos problemas.
Diagnosticar os problemas concretos
e passíveis de localmente serem resolvidos
ou minorados e ter capacidade
para os resolver através da reflexão crítica
e novos modos de acção (mudando,
muitas vezes de perspectiva e
de modelo);
ii) experimentação com novos pontos de
vista. Se enfrentarmos os novos problemas
com as velhas receitas (mais
ordem, mais autoridade, mais ensino,
mais do mesmo…) então não aprenderemos
nada…
iii) aprender com a experiência passada.
Porque só analisando as causas
dos êxitos e inêxitos poderemos progredir.
E aqui seria inteiramente dispensável
o simulacro dos relatórios
que nada dizem, nada adiantam, nada
melhoram. Apenas cumprem o ritual
burocrático...
iv) aprender com os outros. Fechar-se nos seus próprios modos de actuar pode ser a morte da organização. Daí a importância da abertura, da confiança no outro, na aprendizagem interactiva...
v) transferir conhecimentos. Pois o conhecimento tem mais impacto quando
é rápida e eficientemente divulgado entre todos os membros da organização e quando é partilhado por todos.
Para que as escolas aprendam é, pois, preciso gerar ambientes propícios para a aprendizagem, criar estímulos, explicitar vantagens materiais e simbólicas.
E, sobretudo, confiar, apostar, apoiar, reconhecer, contratualizar num quadro claro de direitos e deveres de todas as partes. Só assim poderemos sair do inferno onde nos queimamos e perdemos.
José Matias Alves
CE 165, 2003