“Não lugar”
O “não lugar” é um sítio que tem lugar num espaço e num tempo físicos, mas que não assume significado nem relevância para quem lá passa ou vive. Não fica na memória nem como espaço nem como tempo. Não tem lugar em ninguém. Não fica. Simplesmente, não fica. Nada.
Referiram-no numa ação de formação em que estive há dias. Lembrei-me como tinha já sido sensível a essa noção. Uma amiga e companheira de muitos percursos tinha-o referenciado há alguns anos na sua tese de mestrado, a propósito do que é a escola para alguns alunos. Recordei essa noção com interesse e tristeza.
Interessada nesse lugar estranho que se entende como “não lugar”, pensei na escola. Pensei nas tantas escolas que foram – e são - meus lugares. Nos meus alunos. Na minha sala de aulas – o coração da escola.
É-me difícil ver a escola como um “não lugar”. A minha escola já foram muitas. Foram muitos os lugares a que me dei. Dediquei a cada um desses lugares o meu tempo, o meu saber e a minha intuição. Vivi esses e nesses lugares. Quando volto a eles, faço-o como se fosse revisitar um tesouro que guardei e que redescubro nos mais simples olhares que, de novo, o espreitam. Fico como que encantada e curiosa a observar os alunos que o povoam naquela altura. Iguais e diferentes dos que foram meus. São sempre alunos. Toca e voltam às salas de aula. Ao coração da escola. Ao “lugar”. A esse povoado cheio de palavras novas e exigentes, cor e sonoridade. Aí, existe mais do que um “lugar”; é todo um universo o que acontece na sala de aula. Mas, se for um lugar, que o seja grande. Onde todos anseiem mundo. É, sabemo-lo bem, onde tudo acontece.