Dou-as. Verdadeiramente. É um ato genuíno de amor ao próximo. Sei que um professor ensina, sobretudo, o que é. Sei-o. Não foi por tê-lo aprendido através de estudo; vivo-o e sei que é mesmo assim.
Este ano tenho cinco turmas. Imensos alunos. Comecei as aulas e, como sempre de há trinta anos para cá, entrei na sala, olhei para eles e a vontade de ensinar emergiu lenta e demoradamente. Nunca tenho pressa de começar a matéria. Sinto sempre que devo começar como me parecer melhor. Recordo as palavras de uma professora num seminário que, sincera, disse que uma das suas maiores aprendizagens pedagógicas havia sido pronunciada por uma colega durante o trajeto que partilhavam para a escola. Conversavam sobre as angústias que a sua inexperiência lhe trazia para compreender o ritmo da aprendizagem dos alunos com que trabalhava. Sentia que não avançava tão depressa quanto parecia necessário e isso perturbava-a. A sua companheira – uma colega já perto de se retirar da atividade - terá, então, pronunciado as palavras mágicas: aprende a olhar para os teus alunos. São essas as palavras que recordo nestes momentos. E não tenho pressa.
Espanto-me sempre com os alunos. Com a sua juventude e imaturidade, com o seu desconhecimento de um mundo que é já tão vasto, distante e próximo, com a sua ignorância ante tantas realidades (para mim) já tão antigas! Maravilho-me com o fascínio que revelam por quase tudo o que posso apresentar.
E vou avançando. Respeito um Programa. Respeito o Conhecimento. Mas, mais do que isso, sinto o dever de respeitar um Mundo Novo que não posso resistir a ir mostrando. Olho-os. E as aulas vão acontecendo.
Ana Luísa Melo