Este é um dos meus lemas. Aprendi o seu valor num dos mais belos livros que li, e que comecei a ler num avião bimotor que me levava de Luanda a Malange, na manhã do dia 8 de Março de 1963. Chama-se “Cidadela”, de J. Cronin. Este lema tem-me ajudado a relativizar coisas complicadas e a aceitar com coerência situações que, à partida, pareciam impossíveis de melhorar.
O intróito serve para vos contar por que tenho um Filho chamado Carlos Manuel mas que eu queria que se chamasse João Manuel. Só que, nessa altura, com os meus 21 anos acabados de fazer, eu já dava aulas e tinha um aluno chamado João Manuel. Este aluno dava umas respostas tão loucas que eu, na ignorância da idade e escudada no meu Amor incondicional por aquele Filho tão desejado, reconheço que tive medo que os nomes tivessem algum efeito nas pessoas… Podem rir-se ou sorrir, mas não quis arriscar. Pois o João Manuel, soube-o há pouco, cresceu, mudou e acaba de se aposentar de um lugar de responsabilidade que exerceu com honra e com saber. Portanto, cuidado, “nada é definitivo”, graças a Deus.
Agora, vamos ao mais importante: o João Manuel, naquele longínquo ano lectivo de 1963/64, estava a repetir o 2º ano de uma Escola Industrial e Comercial e eu era professora de Língua e História Pátria. No fim de cada período fazíamos uma prova global (!!!), que era elaborada pelo Professor Responsável pela disciplina, igual para todas turmas. A prova, em que os alunos respondiam directamente na folha das perguntas, era igualmente corrigida por esse Professor, sempre licenciado, e servia também para aferir a competência dos que, como eu então, não tinham habilitações completas. Pois na prova de fim do 1º período, à questão sobre o que se pretendia com a Lei das Sesmarias, o João Manuel respondeu: “A Lei das Seis Marias dizia que a cólera mole e a febre-amarela só podiam aparecer no reinado de D. Maria II.” (ipsis verbis)
Fiquei para morrer! A seguir, havia uma composição subordinada à “Crise de 1383-1385” (perguntar isto, assim, a miúdos de 11 anos, que viviam uma realidade completamente diferente, reconheço, também era de loucos). E ainda hoje sei de cor, com pontuação e parágrafos, o que escreveu o João Manuel:
“D. Fernando casou com D. Leonor Teles, senhora de maus portos.
Casou contra a vontade do povo.
Não foi feliz.
Bem feito.”
Bem, aqui dei umas saudáveis gargalhadas, mas o medo instalou-se: nessa altura, fim do 1º período, eu estava grávida de 5 meses!
E foi por estas bolandas que o meu Primogénito ficou a chamar-se Carlos Manuel!