A ESCOLA E AS SUAS FRONTEIRAS ABERTAS
Desde que somos Agrupamento, que compreendemos que as nossas fronteiras tinham sido alargadas às fronteiras do Concelho. Evidentemente que esta mudança produziu alterações na nossa identidade de escola, agora composta por muitas escolas, e também nos nossos afetos com o(s) mundo(s) à nossa volta. Tinham mudado todas as respostas a perguntas importantes: quem são os nossos alunos? Quem são as nossas famílias? Quais são os nossos lugares? Ao constituir-se um Agrupamento todas as crianças do Concelho passariam a ser nossos alunos, todas as suas famílias passariam a ser nossas famílias e todos os lugares também seriam nossos. Logo, aumentou o tamanho e a complexidade dos espaços e das relações, com um enorme desafio a ampliar o coração e a mente para estas grandes mudanças. Aos poucos fomo-nos adaptando e descobrindo os aspetos positivos do aumento da complexidade.
No ano letivo passado, o Ministério da Educação lançou o Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar e nós, como muitas outras escolas, aceitámos o desafio. Lançámos mãos à obra, ainda não tinha saído o aviso nem sabíamos o formato que iria ter a candidatura do Agrupamento em termos finais, mas sabíamos o que queríamos e sabíamos que sem a colaboração do Município seria impossível conseguir realizar algumas das nossas ideias. Uma delas relacionava-se com o desejo de transformar a escola num catalisador cultural do Concelho, pois tínhamos e temos o Know how, mas faltava-nos uma oportunidade concreta para dinamizar esse propósito.
Nos nossos encontros com o Sr. Presidente da Câmara Municipal fomos dando conhecimento das nossas propostas de medidas para a promoção do sucesso escolar. Todas elas foram acolhidas com entusiasmo e, no meio das nossas conversas, convocamos essa ideia, sendo que emergiu uma nova medida que acabou por se intitular Inclusão Cultural e Cidadania. Pretendíamos envolver toda a comunidade do Concelho: os pais, os avós, as crianças.
Como planificamos: temos um excelente professor do 1º Ciclo, que é o Carlos Paixão, autor de diversos livros e que adora história. Neste ano, dada a sua muita experiência de vida e de profissão, ele teve a possibilidade de ficar sem turma atribuída durante um ano letivo, estando assim mais disponível para se dedicar e esta ideia.
O nosso projeto foi ganhando corpo e foi delineado sem presunção, mas sabendo que era um desafio e que iria exigir trabalho: 3 colóquios na Casa da Cultura, 3 exposições, 3 Caminhadas Culturais.
Foram já realizadas 4 das 6 atividades programadas com uma adesão inesperada de pais e avós, com muitas visitas guiadas a pais e a alunos:
- às exposições “Chávenas de Café e Pacotes de Açúcar” e “Miniaturas de Meios de Transporte”, que aproveitou o gosto pelo colecionismo de diferentes pessoas do Concelho;
- aos colóquios “Caminhos da Cultura e da Escrita” e “Património Religioso, Fé, Arte e Cultura” que tiveram a participação de muitos cidadãos do Concelho, tendo sido noticiados nas rádios locais (http://alivefm.pt/coloquio-caminhos-da-leitura-e-da-escrita/))
- às caminhadas culturais ao Tojal, Serrazela, Cruz e Samorim, que receberam uma forte adesão da comunidade local, sendo também noticiadas nas rádios e outros meios de comunicação (http://letraseconteudos.blogspot.pt/2017/02/caminhada-cultural-vai-passar-por.html).
O Carlos Paixão acabou por ser ainda solicitado para outras atividades na Casa do Povo com histórias para contar junto dos idosos e muitas outras atividades que tem desenvolvido com os alunos da EB1 de Sátão.
O que já aprendemos: podemos sempre fazer mais no contributo para o aumento da cultura, o seu alargamento às populações que não tiveram a “escola toda”; podemos integrar e valorizar outras culturas e outras experiências que nos enriquecem nas atividades educativas e culturais da escola; podemos chegar a mais pessoas, a mais lugares; podemos gerar o sonho, valorizar a criatividade e levar a alegria de forma simples e descontraída, criando e fortalecendo o sentido de sermos comunidade e valorizando o potencial de cada um para um cada vez melhor saber estar juntos.
Com estas dinâmicas culturais e sociais estamos a dar corpo e sentido àquele que deverá ser hoje o papel da escola, de uma escola cujas fronteiras são o Concelho de Sátão e que se deseja aberta ao mundo para que os nossos alunos aprendam a sonhar e a voar alto.
Helena Castro
(Diretora do Agrupamento de Escolas de Satão)