alterou o clássico enunciado de ‘ensinar
a quem não sabe’ para outro mais
exato e mais verdadeiro: ‘ensinar a quem
não quer’.
De facto, nas escolas surgem
agora alunos e alunas que não querem
aprender e que não estão dispostos a
que haja quem o faça. ‘Ensinar quem
não tem vontade de aprender é semear
um campo sem o lavrar.’
Como ensinar quem não quer aprender?
Eis uma das missões (im)possíveis dos
professores. Ensinar a quem não quer,
na escolaridade obrigatória agora até aos 18 anos
é um dos maiores desafios que se coloca
à ação docente.
Porque quem não quer sempre perturba
a aula, ora com o tédio ostensivo, ora
com a indiferença, por vezes, com o escárnio
e o absoluto alheamento.
Um dos maiores desafios e um dos
maiores tormentos. Pois, nessas circunstâncias,
o professor vê que não toca esse
ser ausente, que não cumpre a sua missão
de ensinar. Sente-se então um inútil e
em parte co-responsável por manifesto
insucesso.
Como ensinar a quem não quer aprender?
Inquirir das razões essa ausência;
interpelar, insistir para que esse sujeito
ausente volte ao círculo da aprendizagem,
ligar a matéria à vida, fazer de cada
aula uma oficina onde sempre se faça
alguma coisa diferente da escuta passiva;
variar estratégias, inventar desafios,
expressar expectativas positivas e verosímeis,
instalar um clima de confiança
nas possibilidades de progresso; desatar
os nós da indiferença, criar novos laços,
mostrar a pertinência e relevância
do que se pretende ensinar (às vezes,
missão bem difícil…).
Para ensinar a quem não quer é preciso
recorrer a todos os ensinamentos de
todas as pedagogias, desde as mais
antigas até às mais recentes. E sobretudo
tecer os laços que possibilitem um
trabalho docente mais colaborativo,
onde as vozes dos professores e das
professoras possam emergir para dizerem o que sabem, o que não sabem, o que sentem, o que precisam.
Porque, face às muitas missões (im)possíveis, nós, professores, somos a única força, o único alento, (quase o) único remédio para a sobrevivência profissional. Que bom seria que soubéssemos isso. Que sentíssemos isso. Nessa altura a nossa vida começaria
a ser um pouquinho diferente e melhor.
José Matias Alves