O que é que se passa hoje? A adolescência dilata-se de uma forma desmesurada: cada vez mais precoce, continua até aos vinte e cinco, trinta… ou quarenta e cinco anos! Por muito que se envelheça, continuamos a vestirmo-nos e a falar como adolescentes. Mesmo que casemos, sonhamos sempre poder continuar a viver uma espécie de boémia permanente numa admiração beata recíproca, sem nunca termos de nos conciliar com a mediocridade inevitável do quotidiano. No outro extremo, temos a terceira idade – ou mesmo a quarta – a reivindicar legitimamente já não deverem ser considerados como a idade da reforma, mas como uma nova partida, a descoberta de novas actividades, a possibilidade de se consagrarem – finalmente! – a um trabalho interessante e aproveitar a vida.
E, ao mesmo tempo que desaparecem estas duas cesuras, eis que aparece a “crise do meio da vida”. É o momento em que, depois de se ter criado os filhos, nos colocamos novamente em questão: então o que que fiz da minha existência? Não deveria mudar de trabalho, de mulher ou de marido, fazer uma viagem, fazer outro curso, fazer psicanálise? Apercebemo-nos, com terror, que o tempo passou mais depressa do que se pensava e queremos tornar a agarrá-lo para nos sentirmos existir.
Esta crise da “meia-idade” é, com toda a evidência, uma oportunidade que se oferece às nossas sociedades para permitir uma mobilidade profissional geradora de novos dinamismos sociais: sabemos todo o benefício que poderíamos tirar se, por exemplo, os profissionais mais experientes aceitassem consagrar a segunda parte da sua vida profissional ao ensino e à formação… Mas esta “crise da meia-idade” também é geradora de muitos estragos: fazer o contrário de tudo de tudo o que fizemos até ao presente, arriscamo-nos a cometer algumas asneiras irreparáveis. “Mudar por mudar” não garante que ganhemos com a mudança.
Resta dizer que a crise está mesmo aí e que a vida inteira parece tornar-se um estado de crise permanente. Resta dizer que cada um parece monopolizado pela sua própria crise e se arrisca a fechar-se nela: a vida social torna-se então uma espécie de jogo de bilhar onde “bolas em crise” se entrechocam, voltadas sobre si mesmas, inteiramente absorvidas pelo seu tumulto interior. Resta dizer que, de qualquer modo, deveria ser possível viver estas crises mais serenamente, como um reconhecimento sadio da nossa fragilidade… e uma ocasião inesperada de dialogar com os nossos semelhantes.
Philippe Meirieu