Ao ler o texto de José Matias Alves, publicado neste espaço há alguns dias, questionei-me sobre a diminuta probabilidade de ainda existir um estilo predominantemente tóxico de liderança. Contudo, depois de constatar as declarações de um diretor de escola britânica (uma “independent” privada), proferidas numa conferência em 11 de fevereiro, interrogo-me se não haveria quem, entre nós, as subscrevesse.
Disse Steve Fairlough, diretor da Abbotsholme School de Rocester, que a melhor forma de as escolas se verem livres de “maus professores”, que arruínam a reputação da instituição, seria a de cultivar o medo do fracasso para que se comportassem de acordo com os padrões “aceitáveis”.
Quando se proclama que no centro está a defesa dos interesses dos alunos, porque nos temos que livrar daqueles docentes que “arruínam a vida dos miúdos”, poucos serão os que não concordam. Porém, ao considerar que essa é a maior missão de um diretor e que ela se desenvolve criando um clima de “medo”, tenho dúvidas se Fairclough o disse genuinamente ou se, exercitando um número de representação em que os ingleses são muito competentes, apenas pretendeu avançar com um “soundbite” provocatório. Estará, possivelmente, empolgado pela apreciação da inspeção, que considerou que a sua liderança é inspiradora.
Este episódio não teria qualquer relevância se não existisse entre nós quem, no círculo das decisões educativas, olhe para o desenvolvimento das opções políticas educativas britânicas como fonte de inspiração. E repete-se, até à exaustão, o pregão do “interesse dos alunos e das famílias”.
A relação entre a liderança e a prestação de contas (“accountability”) implica uma abordagem de melhoria das instituições baseada no desenvolvimento de competências, nas quais se inclui o conhecimento, a partir do estabelecimento e prática coletiva de normas, valores e expectativas. Uma pressão excessiva no campo da “accountability” produz desequilíbrio, menor investimento no desenvolvimento profissional e maior esforço na testagem e na regulação pelo controlo.
Associar a qualidade educativa predominantemente a resultados de exames induz a procura de “chefes” sebastiânicos, que inibem e condicionam a ação coletiva. Esta poderá ser uma das tentações dos tempos mais próximos.
Álvaro A. Santos
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