Ao longo destes últimos dois anos, através de uma caminhada de formação, que me permitiu compreender o meu desenvolvimento profissional, as minhas metamorfoses pessoais e profissionais, fui a anã trazida aos ombros de gigantes, para que pudesse ver mais longe e com maior amplitude, não por ter maior capacidade de visão ou distinção física, mas porque o tamanho gigante dos que me transportaram nesse processo de formação profissional me elevou mais alto[1]. E, embora veja agora mais longe, por estar mais alta, infunde-se em mim um sentimento de impotência de ação para exercer aquela ação transformadora necessária, capaz de mudar vontades e mundos. Ouvi já os alarmes soarem relativamente à ameaça que paira sobre a escola. Reconheço urgências de ação nos espaços e tempos da escola. Ensinaram-me que ainda que nunca se saiba onde vamos chegar, é essencial saber como vamos fazer[2] e que é premente, num tempo de aceleração desenfreada, que surja um outro tempo de lentificação da nossa própria existência[3]. Com efeito, reconheço a necessidade de ucronias, de períodos imaginários, hipotéticos, que, no abrandar do nosso andamento, nos permitam escutar a nossa voz interior e a dos outros, na esperança da conceção de outras sintonias libertadoras. Mas como ignificar o meu próximo? Como fazer desencadear, na minha própria escola, a urgência de um abrandamento do próprio tempo para que possamos saber onde vamos chegar?
E é aqui, nesta minha incapacidade de ação de resgatar um futuro, que eu confesso a Deus a minha inveja por não ser uma das Suas eleitas. Sei que sou uma das escolhidas, mas sou apenas mais uma; o que me falta, Senhor? Será que é preciso também não ter filosofia nenhuma?...
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.[4]
Paula Pessoa.
[1] Bernard of Chartres
[2] Professora Isabel Batista, Católica Porto
[3] Professor Matias Alves, Católica Porto
[4] Pessoa, F. (1980). Poemas completos de Alberto Caeiro (Vol. 1). NBL Editora.