Tempo ameno que permite alongar o piquenique nos jardins da Gulbenkian. Os sete alunos que estão comigo todos dizem que gostam da escola mas não gostam de estudar. Afirmações tão decididas e tão unânimes que não podem deixar de me espantar. Se estes, os que têm boas notas, não gostam de estudar, onde estarão os que gostam? Corresponde mesmo à verdade ou é um efeito de contágio tão eficaz que nenhum se atreve a confessar que sim e até agradece a possibilidade de poder estudar? E pergunto: mas o que farias se não tivesses escola? Resposta: nada. Nada? Achas que seria possível? Pensa, por exemplo, nos jovens angolanos da tua idade que não vão à escola. Em que te parece que ocupam os dias? Ó professora, podem fazer o que lhes apetecer. Não, diz um colega, têm de ajudar os pais. Continuam sem que eu intervenha e com a discussão de fundo interrogo-me sobre a pouca consciência do que recebem ao poder vir à escola. Do privilégio imenso de saber ler, compreender uma mensagem escrita, não ter dificuldade em redigir uma resposta ou preencher um qualquer formulário. Receberam sem pedir. Vêm à escola porque são obrigados e ponto final.
Faz falta meter a mão na massa, alguma experiência de vida real em que lhes sejam permitidas responsabilidades próprias. Este vogar à superfície de águas represadas não é próprio do humano.
Manuela Gama