I - Agrupamentos
A verticalização organizacional da rede escolar, com a constituição dos designados “megaagrupamentos”, continuou a suscitar enorme controvérsia em 2013, na qual foi frequente a mobilização de linhas de argumentação inscritas num registo emocional, de conquista ou de manutenção de poderes, em detrimento de matrizes de raciocínio que poderiam, de forma sustentada e com base em investigação já existente, aduzir vantagens ou desvantagens desta opção para a reorganização da rede escolar.
A intenção de racionalização e gestão descentralizada da oferta de ensino, designadamente através da consolidação do processo de agrupamento de escolas, privilegiando a verticalização pedagógica e organizacional de todos os níveis de ensino, encerra uma problemática muito mais complexa do que uma boa parte da argumentação utilizada pode fazer crer. Os principais níveis de discussão poderiam centrar-se em razões de ordem pedagógica e organizacional, mas foram a maior parte das vezes contrapostas e dominadas por razões de racionalização económica, com ganhos de curto prazo. As culturas de gestão de tipo empresarial nas escolas ganharam terreno, não apenas ao nível da linguagem adotada, mas também em muitas práticas de direção.
Porém, sabemos que não chegará definir por decreto para que no terreno as melhores intenções se concretizem. A redução da argumentação ao indicador número de alunos (superior a três mil em muitas circunstâncias), sem considerar outras variáveis, torna muito duvidosa a eficácia educativa da medida. Há, na literatura especializada, evidências de que a verticalização pedagógica e a articulação não são adquiridas apenas pelo fato de se estar dentro de uma mesma unidade organizacional (ou mesmo num único edifício escolar). Poder-se-á contrapor que a articulação pode ser adquirida em unidades organizacionais diferentes que funcionem com base num determinado projeto comum. Convirá referir que os ganhos de escala podem produzir perdas significativas de acompanhamento e de monitorização.
A lógica de ação tende para uma maior normalização, burocratização, como forma de reduzir riscos e incertezas e, por outro lado, proporcionar um maior controlo de procedimentos. Tal implica maior impessoalidade nas relações entre os membros da comunidade educativa, o que compromete a melhoria das aprendizagens.
Trata-se, portanto, de processos que deveriam ser cuidadosamente analisados. A amenização de um problema de curto prazo tende a produzir um conjunto de outros problemas a médio e longo prazos, com custos finais bastante mais elevados.Clique aqui para editar .