Envolvida no projeto Key for Schools, surgiu-me, sem que eu me apercebesse, a possibilidade de uma visitação.
Com efeito, enquanto examiner, devo apresentar-me em diferentes escolas do meu distrito para realizar exames orais a alunos do 9ºano. Esta nova função consubstanciou-se numa sobrecarga, tanto a nível profissional, como a nível pessoal, tendo em conta que, para além das deslocações várias e respetivas sessões, com duração nunca inferior a três horas, toda a logística que suporta o projeto não tem sido muito honesta e transparente para com os seus “recrutas”. Mas este será, provavelmente, um assunto que abordarei numa próxima oportunidade, já que é através da escrita, exercício sublime que, ao me exigir uma reflexão contínua de escolha de palavras e de pontuação, exige-me, igualmente, uma ordenação de ideias e de emoções, que eu me consinto alguma libertação. Mas, se devemos procurar o lado bom em tudo o que nem sempre nos corre tão bem, esta nova função tem tido, efetivamente, o seu lado luminoso.
Cada deslocação a uma nova escola como que parece contar uma nova história. E tudo começa logo no momento em que chego e procuro estacionar. São muito poucas as escolas que permitem que entre nos seus portões; na maioria das vezes, o carro tem de ficar do lado de fora. Segue-se o instante em que me anuncio junto da portaria; quase sempre já estão à minha espera. Identifico-me, registo a hora de entrada e assino, normalmente acompanhada de um sorriso, umas vezes mais largo do que outras. Há escolas em que o responsável do projeto me vem esperar à entrada; noutras tenho de ir percorrendo corredores e pátios de recreio, observando rostos curiosos como que sussurrando “esta não é de cá!”. Já vou sabendo que na maioria das escolas públicas, a vida se desenrola por entre blocos de dois andares e é mais ou menos fácil encontrar o caminho; quando a arquitetura é outra, já me vou perdendo…
Segue-se o momento do encontro com o responsável que me conduz até à sala das sessões: e é aí mesmo que me reconheço enquanto colega de profissão, partilhando desabafos, cansaços, sucessos e insucessos. De seguida, faz-se a chamada e os alunos vão entrando em pares, com intervalos de dez breves minutos entre si. Cada rosto que assome à porta revela algum nervosismo. Por instantes, através do interrogatório a que procedo, entrevejo uma história de vida: algumas alegres, outras tristes, outras desanimadas, outras aborrecidas, outras escondidas. Ao longo de três horas, partilho de ambições, sonhos e projeções. Ao longo de três horas, escuto frustrações, desânimos e tristezas.
No momento do intervalo, sou convidada a tomar um café ou “algo mais que me agrade”. É quando me surge a oportunidade de conhecer a escola. Na maioria das vezes, dirigimo-nos ao bar e, pelo caminho, visito a sala de professores, algumas salas de aula, a direção, e outros espaços. É o momento da visitação: outros rostos, outras vidas, outras formas de estar e de conceber o espaço, outros cheiros, outros sorrisos… novas culturas. Inevitavelmente, faço a comparação com a minha escola, com a minha cultura. Por vezes, sinto saudades dela e chego a pensar “aqui nunca seria feliz!”; outras vezes, penso “aqui era capaz de ser feliz!”.
Chegadas ao fim as sessões, seguem-se as despedidas. Na maioria das vezes, sou acompanhada até à entrada e, após um “Até à próxima; muito obrigada”, assino a hora de saída e dirijo-me ao meu carro. Na viagem de regresso, revejo espaços, repenso pessoas. Revejo a minha escola, repenso as minhas pessoas. De visitação em visitação, vou reconhecendo a minha escola através das escolas dos outros.
Para que escola irei na próxima semana?..
Paula Pessoa.