Não sei se da letargia própria da gripe, da época ou da idade dei comigo a fazer uma revista sobre 2014. Não sou de grandes suspiros. O que aconteceu já deu, não vale a pena perder muito tempo com queixumes, mas é importante revisitar o passado não para alimentar o lamento mas a aprendizagem.
Como professora e membro de uma classe profissional que sente a falência emocional do não reconhecimento da sua importância para o desenvolvimento de um país mais humano, mais competitivo, mais bem-sucedido, o ano de 2014 não foi um bom ano. Uma classe que não foi ouvida (porque não foi “perguntada”..) , não foi protegida e sobretudo não foi respeitada.
2014 foi um ano de debandada física e psicológica da vontade da implicação “carola” dos professores que davam tudo, apesar de tudo, a troco de quase nada. Este ano assisti, desolada, à desistência de professores de grande valia que tinham muito ainda que ensinar, partilhar, oferecer aos alunos, à educação, aos seus pares. Muitos pediram rescisão, cansados e vencidos por uma luta que já não sentiam ter coragem para continuar a travar, alguns com graves prejuízos para o seu pecúlio. Outros permanecem mas sentem-se cada vez mais no limbo da sua vocação, com “ um pé no dever e um pé na vontade “, uma espécie de sobreviventes que insistem em mostrar que o ensino é uma forma de vida que produz vida, embora o seu olhar denuncie que até eles já têm dificuldade em acreditar nisso.
Mas também conheço outros. Estes, são os heróis que todos os dias entram na escola com um sorriso no rosto e uma vontade férrea de semear esse sorriso para que ele se reproduza no rosto de todos. Estes colegas que às vezes percorrem centenas de quilómetros para chegar à escola, que têm problemas em casa, que a vida não poupa de todos os seus enganos e penas, mas que continuam a amar o que fazem e fazem-no o melhor que podem e sabem.
São sobretudo estes que mereciam um 2015 em que a verdade da sua ação pedagógica fosse reconhecida. Que se inaugurasse, neste ano, um esforço” escutatório” para que a sua experiência e conhecimento sejam ouvidos. Que 2015 inaugure um ano de um novo relacionamento entre os professores, a escola e as estruturas que os tutelam.
Descentração, autonomia, municipalização. Chamem-lhe o quiserem. Os nomes não resolvem problemas apenas os rotulam. O fundamental é ouvir. Perceber porque os professores estão desmotivados, as escolas exauridas, os alunos sem esperança.
Fundamental é olhar para trás e perceber que o tipo de relação, de bloqueio, de enfermidades que dificultam que a voz e o sentimento profissional dos professores sejam ouvidos não produz melhoria, não funciona.
É fundamental reinventar em 2015 uma nova forma de relação. Porque só quando se corre ao lado se tem hipótese de que todos cheguem à meta. Insistir que só quem vai à frente conhece o caminho é esquecer que, por vezes, este só julga conhecer.
Obama afirmou recentemente que revistou 50 anos de bloqueio a Cuba para concluir que dele nada resultou que melhorasse a vida de ambos os povos e então tenta agora uma nova abordagem nas relações bilaterais dos dois países. O Papa Francisco olhou para tantos anos de relações doentes entre os elementos da Cúria e diz que feito o diagnóstico é necessário reavaliar e redefinir essas relações.
Talvez por cá seja altura de algum governante sensato que habite na 5 de Outubro encontrar novos caminhos para o diálogo. Só assim os professores enganarão a Pandora do nosso tempo e conseguirão abrir o baú onde ela aprisionou a esperança. É necessário requalificar o clima das escolas naquilo que ele depende da “ licença” para renovar o seu oxigénio. É barato e não necessita de qualquer Parque Escolar gestor. É urgente e necessário criar condições para que a esperança renasça, cresça e sobretudo se reproduza. Porque uma escola sem esperança é um rio sem água; é uma promessa vazia.
Assim o meu desejo para 2015 é que nasça como qualquer bebé: uma esperança em potência.
Que como qualquer botão de flor seja uma renovação de vida, que cresça com autonomia e responsabilidade, que mature no calor das relações humanas e que se despeça em Dezembro como um ano bom, sem remorsos ou lamentos pois nos bons e maus momentos aproximou as pessoas.
Que seja por elas recordado como um ano em conheceram algumas das faces da Felicidade.
Ana Paula Silva