O António é obeso.
Finalmente, depois de tantas tentativas falhadas para o arrancar de horas infindáveis diante do computador, anda entusiasmado com o handball, que iniciou no ano passado. Mas, em novembro, a aula de recuperação de matemática veio cair num dos três treinos semanais. “A faltar a um treino por semana tiram-me da equipa. Fico no banco.” Diz-me ele desolado. “ E eu, este ano, até estou a tirar positiva a matemática. Nem conheço a professora que vem dar o apoio. Eu gosto é da que dá aulas à minha turma!”
Então não é o Conselho de Turma quem decide, analisadas todas as condicionantes? Não. Se está na lei, aplique-se. O António tem um percurso escolar infeliz e agora está no 7º, mas já com três retenções. Para casos destes há uma série de mecanismos a acionar. Obrigatórios?
“Temos de nos salvaguardar”, repete a prudência. “O melhor é ele ter tudo a que tem direito, para depois não nos acusarem de negligência.” E é nesta ordem de ideias que o António “beneficiará” também de “apoio tutorial específico” que acaba por lhe ocupar a única tarde livre. O que soa a penalização e não a ajuda.
Anda assim a solução desajustada ao problema, quase a gerar mais problema. Como diziam na semana passada os especialistas da ONU a analisar situações de pobreza em Portugal: “Tirar os filhos à família que vive em casa sem condições mínimas? Como? É uma família à espera de habitação social, acelere-se o processo!”
Hoje, com mais recursos do que nunca, o cerco à criança é implacável. Mais horas na escola e tantas vezes para bem pouco sucesso: “o plano é adequado, as estratégias desenvolveram-se como previsto, o aluno é assíduo e interessado, mas fica retido porque não atingiu as metas.”
Manuela Gama